quinta-feira, 14 de maio de 2009

Reclame à Deus

Num momento de introspecção, fiz uso deste sujeito oculto ou indefinido e ousei fazer umas perguntas ao nosso criador, foi então que fiquei bastante surpreso, pois enquanto formulava as perguntas, com elas vinhas surgindo as respostas.

RECLAME À DEUS

01
Um homem desesperado
Com o que acontece no mundo
Num desabafo profundo
E bastante encabulado
Depois de um ato impensado
Pegou lápis e papel
E escreveu para o céu
Pra dizer o que estava errado.
02
Sua benção meu Senhor
Perdoe-me o jeito grosseiro
Sou um pobre brasileiro
E não ando de bom humor
Preste atenção por favor
Pra tudo que vou dizer
E se o Senhor me convencer
Lhe farei grande louvor
03
Sou um homem do sertão
Que vivo aqui no Nordeste
Bem diferente do Sul e Sudeste
Que vejo em televisão
Diga-me qual a razão
Pois lá eu vejo fartura
Pecuária e agricultura
É riqueza de montão.
04
A chuva lá é em abundância
Cá pra nós quase não vem
Diga-me o que é que eles têm
Que tanto dares importância?
Não falo com arrogância
Mas me diga se isso é praga
Se por causa de um, o outro, paga
Qual é a significância?
05
Se fenômeno natural
Isso para mim é mito
Eu quase não acredito
Por favor, não leve a mal
Se todo mundo é igual
Como a própria Bíblia diz
Porque há tanto infeliz?
Não acho isso normal
06
Quero saber a razão
De existir o rico e o pobre
O fariseu e o nobre
Uns com muito, outros não.
Se o pais está em ascensão
Há desordem na política
E cada vez fica mais crítica
A nossa situação.
07
A nossa terra é benquista
Aqui não tem terremotos
Furacões nem maremotos
Nem inimigo terrorista
Queria ser otimista
Não querendo ser tão crítico
Mas botasses cada político
Inda por cima, petista
08
Eu ando desconfiado
Com o que está acontecendo
Está todo mundo vendo
Não posso ficar calado
És o grande interrogado
Pois se tudo é invenção sua
A terra, o mar e a lua
Perdoe-me, mas és culpado.
09
És o todo-poderoso
E disso ninguém duvida
Passei toda minha vida
Ouvindo isso do idoso
Porém estou duvidoso
A razão desse tormento
Tudo é teu consentimento
Ou sou eu que sou teimoso?
10
Enquanto existem milhares
Morrendo de trabalhar
Não tem nem onde morar
Isso em diversos lugares
Outros têm mansões solares
Na garagem um carro importado
Vidro elétrico; ar condicionado;
Tudo com vista pros mares.
11
Faça-me então entender:
Se tantos têm mesa farta
Para outros, tudo falta!
Até água pra beber?
Rico? Não, não quero ser.
Só quero ter um emprego,
Saúde paz e sossego
E em casa o que comer.
12
Quero o que qualquer almeja
Por isso dou duro danado
Não faço nada de errado.
Só quero que me proteja
Meu Senhor ao menos veja
Estou sempre no aguardo
Talvez meu único pecado
É não ir muito à Igreja
13
Não sou ateu nem herege
O que me move é a fé
Não em Buda ou Maomé
É o Senhor que nos protege
Sendo assim ninguém diverge
Se és tu, o Salvador!
Responda-me, por favor,
Se és esta luz que nos rege

- A resposta

- Meu filho deite-te dois olhos...

Tu enxergas? Sim Senhor
Dei-te pernas, te dei braços,
E tudo que eu te faço
É porque te tenho amor.
Como bom conhecedor
Preste atenção, porém:
Pois tudo que os outros tem
Não tem um mesmo valor

- Reclamas de barriga cheia.

Queres riqueza maior?
Do que ver estrelas brilhando
Ouvir os pássaros cantando
Sentir os raios do sol?
Pois em verdade vos digo
Sou teu verdadeiro amigo
Jamais estivestes só.

Não é caso pra castigo
Mas falaste muitas blasfemas
Porém meu filho, não temas
Sempre vou estar consigo,
Mas, em verdade vos digo
Parábolas não são teoremas
Mas para a adversidade
Eis que eu tenho a verdade
Resolvendo teus problemas

Se existir o desespero,
Eu lhe trarei a esperança.
Se houver a tempestade,
Eu levarei à bonança.
Se acontecer a guerra
Eu trarei paz para a terra
Herdade e preserverança
14
Tenho cá minhas razões
De não estar tão confiante
Entra e sai governante
E os mesmos papelões
E de milhões em milhões
Tem fortuna garantida
Enquanto muitos, até comida,
Tem que buscar nos lixões
15
Diga-me se é normal
A tamanha desigualdade
A tal da impunidade
Pra quem pratica o mal
Só o pobre é marginal
Quem tem dinheiro é rei
E ainda diz que perante a lei
Todo indivíduo é igual?
16
Se um pobre assalariado
Quer fazer um crediário
Tem que comprovar salário
Para ver se é aprovado
Depois aquele coitado
Passa horas numa fila
Chega alguém com uma apostila
E começa o interrogado
17
Pra preencher a papelada
Haja pedir documento
Da data de nascimento
Até a carteira assinada
Quando a ficha é puxada
RG, CIC e Serasa
O pobre volta prá casa
Sem crédito, compra e nada

Eu também criei a cura
Para banir a doença
Para calar o herege
Eu também criei a crença
Pra ilusão, tem a certeza
A alegria pra tristeza
A bondade para a ofensa

Eu também criei o herói
Para combater o vilão
Para cada condenado
Tem que haver a salvação
Para que o correto exista
Tem existir o fascista
O errado e a razão

Para cada pecador
Eu concederei perdão
Para haver um campeão
Tem que ter o perdedor
A beleza pro horror
A luz para escuridão
Para cada invenção,
Tem que haver um inventor

Para as trevas tenho a luz
O certo para o errado
E para livrar-te do pecado
Mandei meu filho Jesus
E crucificado na cruz
Da morte, a ressurreição
Bani da terra, mal feitores
Falsos profetas e doutores
Para sua salvação

A primavera para a flor
Verão, outono e inverno
Darei-te descanso eterno
E o alívio para a dor
E não querendo pedir favor
Eu também tenho uns reclames
Mas só peço que me ames
Sou teu Deus, pai e Senhor

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Natal, Rio Grande do Norte, Brazil
Sou um caboclo pacato De origem interiorana Nasci em terra bacana Como verdade e fato Esse é o meu jeito nato De falar do meu torrão Tenho um grande coração Que a ele está resguardado Por isso que sou chamado De Poeta do Sertão

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