quinta-feira, 14 de maio de 2009

O nosso palavreado

Termos, expressões: o nosso palavreado

Dos dizeres e linguajares
Às linguagens e dialetos
Nas expressões populares
Nos sentidos mais completos
Sem cartilha do alfabeto
Sem plurais nem singulares
Na expressão bem entendida
Da mais simples forma de vida
Das escutas e falares

Sem sujeito e predicado
Pouco importa a concordância
No nosso palavreado
Regras não têm importância
É a mesma significância
No garimpo ou no roçado
Nos batentes e na esquina
No prosear de rotina
Todos dão o seu recado.

Antigamente não existia
Rádio nem televisão
Nossos avôs, só ouviam
Proseado do patrão
Eis aí a justa razão
Como tudo acontecia
As palavras modificadas
Sendo aos poucos incrementadas
No seu pacato dia-a-dia.

Começo me descrevendo
Numa autobiografia
É como está revivendo
Tudo aquilo que eu vivia
E voltando àqueles dias
Vou tentar me expressar
Falando o palavreado
Que ainda hoje é usado
Pelo povo do meu lugar

De sambudo a abiudo
Como toda meninada
Nas arengas, de cascudos
Cocorote e bofetada
Joguei supapo e pernada
E quando a ingrisia era feia
A ritumba era pesada
Inda dava umas bordoada.
Tabefe e mão na ureia

Falava-se em moitim
Das ureia ficar impé
Burburim, visage, pantim
Não botava muita fé
Me arredava em fincapé
E todo arripiado
Tremendo que nem vara verde
Amoquecado na rede
Se falassem em mal-assombrado

Vez em quando escapolia
Ou saía de supetão
Invaredava, desaparecia
Sem apercata, pé no chão,
Levei topada e trupicão
Em lamacéu e pedregui
Pelo munturo e cabeço
Esses nomes eu não esqueço
A criança que eu fui.

Mulher falada, é da vida
Namoradeira, é danada
Não é mais virgem, é perdida
Se o marido deixa, é largada
Se junta, é amancebada
Moça bonita é arrumada
Tem bunda grande, é quartuda
Engravidou, ta buchuda,
Tá pela boca ou amojada

Se é parecido, é cagado e cuspido
O vistoso é um bonitão
É também bem parecido
Ser feio é a image do cão
Não é castrado é barrão
Mal criado é maluvido
Cabra ruim é impestado
O troncho é malamanhado
Sem ninguém é desvalido

Pra começar, quem vai avexado,
É um pé lá, outro cá
Num pé e noutro é apressado
Me dë aqui, é decá
Ta querendo namorar
Ele ta com inxirimento
Mexeu com a fia aleia
Desonrar é coisa feia
Pexeira no bichiguento

Ta amigado, é amancebo
Ta gostando, é xamegar
O embriagado é bebo
Ou está mei lá mei cá
Saiu, foi fugutiar
Mal vestido é esmulambado;
Ta mesmo o Juda; só os trapo;
Só o quilangue ou farrapo,
E o bem vestido, tá alinhado

Tratar mal, é discompor
As garateia, é a toa
Ta com o raío, tá com o istopö
Muito cheio é pela proa.
Falar versos, é fazer loa
Sem freio é desembestado
Toda ruindade é pouca
Infeliz da costa ôca
Má conduta e escumungado.

Vai dá espaio vai brigar,
Deu nó cego, é arruaceiro
Fazer inferno e irredar
De leva e traz, é fofoqueiro
Espírito mau, é zambeteiro
Se não presta, é milacria
E pra quem for de mal agrado
É traste, trambei,. caningado
Credo e cruz, ave Maria

O cabido é atirado
Dez espigas é uma mão
Se ganhei um cozinhado
Ganhei um mói de feijão
O canto mais fundo é purão
A pá faz parte do ombro
Ta viçando ta no cio
Desocupado é vadio
Coisa feia é malassombro

Foi pra farra, foi pro gango
Caiu na patifaria
Homem duvidoso é frango
Falar brebote é arisia
No caritó, é titia
Homem forte é parrudo
Homem moço é rapazote
Pode ser também frangote
O corajoso é peitudo

Gente feia é papangú
Ser rico é ter posiçao
Tem posse, as coisa e tutu,
É coroné ou barão,
É mais ou meno; é bichão,
Todo mais velho é sinhö
O amarrado é suvino
Triste da pancada do sino
Ta ruim, é tá com uma dor.

Jogar pilera é piada
Fugir é “cair no mundo”
“Sem futuro” é vagabundo
Dá com força é cipuada
Mulher ruim é depravada
Tonto e lerdo é abilolado
Chamou pra tapa é arenga
Se não faz um “Ó” com uma quenga
É um jumento batizado

Tá morrendo, é esperniando
Muito mal, é à beira da morte
Fez resenha, é comentando
Bicho cagado, é de sorte
Chamboque é ferida ou corte
Vai te danar, discunjura
Briga de boca é rém-rém
Dinheiro pouco, é vintém
Má no estambo, é gastura

Pé bate na bunda é correr ligeiro
E devagar é piado
Quebrar a palavra, é fuleiro
Sem cor é impalemado
Fez mal, é amaldiçoado
O antipático é ranheta
Ta sem jeito, ta reiado
Infitete e amolestado
E o coisa ruim é o capeta

Com zói trocado é zanoi
Grota pode ser caverna
Muita coisa, é mazaroi
Batata é parte da perna
Cão que carregue é praga eterna
Brincar de tocar, é tica
Caixa prego é um lugar
Que cansavam de mandar
Mas ninguém sabe onde fica

Quem mirrir do outro, manga
Faz pouco, tira a terreiro
O amostrado, faz munganga
O engraçado é presepeiro
O enrolão é marreteiro
Inimigo é malfasejo
Ladrão é o mesmo gatuno
Pestelento é infortúnio
Resto dos outro, é subejo

Pensar muito é incasquetar
Tá tonto é cambaleando
Não quis ir, é istribuchar
Chorar baixo, é churumingando
Se mudar é debandando
Arrimidei é ajuda
Ta muito seco, é esturricado
Se ta sujo, está breado
Socorro é Deus me acuda

Se não é bom, é timote
É um troço ou prejura
Turma de gente, é magote
Deu passamento, é tontura
Fazer errado, é feiura
Goleou, deu de capote
Os desunidos, é mundiça
Divanicido é preguiça
Macho da gia, é caçote

Avie logo, é se apressar
Pereba é uma ferida
Dá no jumento é açoitar
Sem gosto, é desinchavida
Desvirginada, é bulida
Amontoado é mundé
Quem tem ingui, arripuna
Tem muitos bens, tem furtuna
Se é bom de bola, é Pelé.

Ruma e monte, é um bucado
Mato fechado, é toceira
Mói é um fardo amarrado
Mato ralo, é capoeira
Se é muita magro, é caveira
Moita é um pé de mato
Se agachou, ta de coca
Buraco raso, é barroca
As tripas do bucho é fato

Sem futuro, é catrevage
Engraçado é maimotento
Caçar chelita é malocage
Soltar pum, é peido ou vento
Conselho é parecimento
Quem dá as hora, é bom dia
Permite é concentimento
Ridimunho é pé-de-vento
Sem limite é dirmasia

Sem ninguém, é sem um pé de gente

Ranzinza é cabra teimoso
O teimoso é ser rinitente
Se é carregado, é renozo
Pintura é algo escabroso
Duvidoso é escabriado
Suspeita, é arrumação
Pouco é taquim, quinhão
Quem não anda é intrevado

Muito velho, ta só os pedaço
Queda violenta é baque
Só o resto, é só o bagaço
Deu um negócio é dá ataque
Passamento é quiripaque
Topar com alguém é esbarrar
Ruim é atanaso ou frecha
Um furo na porta é brecha
Chei demais é esborrotar

Pedir muito é esmole
Garganta é também gogó
Ureiudo é um caboré
O mutilado é cotó
Arapuca é quixó
Sol ta quente, ta tinino
Não tem cuidado é dirleixo
Mandíbula é taba do queixo
Ta podre ta se dilino

Levou o prego e o martelo
É quando vai e demora
Apercata é chinelo
Quem chama o que ruim, aigora
Coisa ruim é caipora
Má digestão é bucho inchado
Prisão de ventre é inturido
Tosse seca é istalicido
Impachou tá impanzinado

Um quilömetro é légua ou braça
Visinho é parea de meia
Foi pro oxelço, fez praça
Se apanhou levou peia
Faz bem feito é de mão cheia
Andar junto é acoleado
Quem colhe, apanha ou cata
Medidas é cuia ou quarta
Fez conta é comprar fiado

Cabriou é se enganar
Mergulhar é dá frexeiro
Cair na água é istibungar
Beira de estrada é aceiro
Do Bodõ é bodozeiro
Quem chega diz Ö de casa
Que ta responde Ö de fora
Vai saindo, vai simbora
Ta quente é mesmo que brasa

Ta de cama é enfermidade
Mau bucado é precisão
Aperto é necessidade
Mei de vida é ocupação
Idéia é inventação
Mal estar é agonia
Muita coisa é negrejando
Ta muito, ta friviando
Se presta tem serventia

Bate boca é pé de briga
Loiça velha é cacareco
Ta com verme é com lombriga
Tiro fraco é peteleco
Sentir mal é xilique ou treco
Susto de mulher é ui
Se tremeu em pé ta bambo
Roupa velha é mulambo
Coisa no estrambo é imbrui

Ta liso, é sem um indez
Muita schelita é veeiro
Quase maduro é de vez
Machante é açougueiro
Lugar dos bicho é xiqueiro
Se ele é moco, é surdo
Mulher que trai é xifreira
Falsa ao marido, rameira
Falar um do outro, é xafurdo

Ta cá gota , cá mulinga
Ta solto na buraqueira
Todo mau cheiro é catinga
Quem bate roupa é lavadeira
Fez as compra, fez a feira
Por pouco é escapar fedendo
Olho grande é abuticado
Espanto é acatitado
Ta se indo, ta morrendo

Se lasque ou istique, é morra
Se espichar é se deitar
Porme do café é borra
Fazer cocö é cagar
Deu peixeirada é furar
Ser grande é um aloprado
Anus é furico ou boga
Cheio de banca, é cheio de goga
Ta pelos canto é amuado

Enxerga mal é zaroi
Saculejo é puxavante
Mão na cara é tapa oi
Óleo caseiro é solevante
Rabuge é cheiro irritante
Quer ser as pregas é importante
E assim escrito e falado
Esse é o nosso palavreado
Que vai daí por diante

Um grogue, é uma dose de pinga
Sem paciência, é afobado
Aperreio é caninga
Todo afoito é amostrado
Ta com difruço, é gripado
Deu nojo é arripunar
Carro velho, é lebreia
Ributai é resto, é peia
Fazer amor, é se deitar

Tirar madorna, é dormir
Medonho é inquieto,
Mexer com o outro, é bulir
Inimigo, é desafeto
Ter agrado é ter afeto
Bicho sujo, é bicho imundo
O matuto é brocoió
A chuva grossa é toró
Visão é coisa do outro mundo

Passar fome é dificuldade
Perder tempo, é se impaiar
Corta-jaca é falsidade
Calar a boca, é se trancar
Procurar briga, é increncar
Menino buchudo é moleque
O puxa-saco, é chaleira
Diarréia é caganeira
Ta às queda, é de pileque

Fazer disfeita, é caçuando
Ver tocha, é dificuldade
Andar nos canto, é vadiando
Todo amigo, é cumpade
Traquinagem é crueldade
Monte de mato, é coivara
Trevalia é pesadelo
Retroi de linha, é novelo
Mão no fucim, é na cara

Se não pode andar é derrengado
Má pessoa é má elemento
Sem noção é abobaiado
Menino sujo é perebento
Também pode ser remelento
Faz tudo errado é cagão
Ta fraco ta só o quimba
Pequeno poço é cacimba
Olho dágua é cacimbão

Apertado é isprimido
Braço isquicido é dormëncia
Cheio de dor é combalido
Pouca vergonha é indecëncia
Tuberculoso é esfraquecido
Cabra macho é destemido
Chorar é cair aos pranto
Bagana é também brebote
Vigi Maria, ichi, vote,
São expressões de espanto

Pisar em falso é torcer o pé
Deu um jeito ou dirmintiu
Até mais é só inté
Se é muito magro é tisiu
Pra alguém olhar, é psiu
Gente besta é arrogante
Galo na testa é calombo
Pode ser também catombo
Mulher lustrosa é elegante

Língua afiada é firina
É quem fala mal de alguém
Crina é também isquilina
Catabie é vai e vem
Comer de pinto é xerém
Muita terra é propriedade
Sabe das coisa é entendido
O abiudo é mitido
Quem ajuda, faz caridade

Falar o que não devia
É bater com a língua nos dentes
Vazie e quarto é bacia
Tem parte com alguém é parente
Terreno plano é rente
Mulher da rua é vadia
Mulher de casa é direita
Se não aceitou fez disfeita
O sol a pino é mei dia

Estender roupa é enxugar
Depois que já foi lavada
Se botou para quarar
Deu só uma ensaboada
Pouco seca, é enxovalhada
Passar o ferro é engomar
Passou bem perto tirou fino
O amarrado é suvino
Poderoso é o maiorá

Comer de porco é lavage
Bater carro é barruada
Plantio é roçado ou vage
Coitado é quem não tem nada
Bolar de rir é dá risada
Dá um exemplo é castigo
O desdentado é banguelo
Má sorte é também fragelo
Homem feio é papa figo

Troço sem valor é bregueço
Sol se escondendo é se pondo
Catar cavaco, tropeço
Zuada alta é estrondo
Marionete é João Redondo
Responder é disaforo
Espinguinha é tambueira
Quem faz o parto é parteira
Ta doido, é com os cão nos couro

Foi andar, foi bater beira
Menina moça é caboca
Mulher fértil é parideira
Se usa bobe, usa touca
Dispranaviada é louca
Confusão é um roçoi
Raiar é chamar a atenção
Brigar com o filho é carão
Se a venta escorreu se açoi

Via as pessoas espalhada
No alpendre, ao oitão
Nos batentes da calçada
Contando adivinhação
De todos tinha a atenção
Falando o que nunca leu,
Mas ali tudo entendia
E muitos até hoje em dia
Nem o seu nome aprendeu

Como era! não se compara
Minha vida era bela
Pulando currais de vara
Pela porteira e cancela
Sem aperrei nem esparrela
Entre o velame e o pinhão
E assim eu fui educado
Falando o palavreado
Do português do sertão:






























































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Um comentário:

Quem sou eu

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Natal, Rio Grande do Norte, Brazil
Sou um caboclo pacato De origem interiorana Nasci em terra bacana Como verdade e fato Esse é o meu jeito nato De falar do meu torrão Tenho um grande coração Que a ele está resguardado Por isso que sou chamado De Poeta do Sertão

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